Módulo IV

O sistema universitário brasileiro, o vestibular e o sistema de cotas.

A1

Rubem Alves: Diploma não é solução

Rubem Alves
colunista da Folha de S.Paulo
Vou confessar um pecado: às vezes, faço maldades. Mas não faço por mal. Faço o que faziam os mestres zen com seus "koans". "Koans" eram rasteiras que os mestres passavam no pensamento dos discípulos. Eles sabiam que só se aprende o novo quando as certezas velhas caem. E acontece que eu gosto de passar rasteiras em certezas de jovens e de velhos...

Pois o que eu faço é o seguinte. Lá estão os jovens nos semáforos, de cabeças raspadas e caras pintadas, na maior alegria, celebrando o fato de haverem passado no vestibular. Estão pedindo dinheiro para a festa! Eu paro o carro, abro a janela e na maior seriedade digo: "Não vou dar dinheiro. Mas vou dar um conselho. Sou professor emérito da Unicamp. O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!". Aí o sinal fica verde e eu continuo.
"Mas que desmancha-prazeres você é!", vocês me dirão. É verdade. Desmancha-prazeres. Prazeres inocentes baseados no engano. Porque aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles estão enganados.
Estão alegres porque acreditam que a universidade é a chave do mundo. Acabaram de chegar ao último patamar. As celebrações têm o mesmo sentido que os eventos iniciáticos —nas culturas ditas primitivas, as provas a que têm de se submeter os jovens que passaram pela puberdade. Passadas as provas e os seus sofrimentos, os jovens deixaram de ser crianças. Agora são adultos, com todos os seus direitos e deveres. Podem assentar-se na roda dos homens. Assim como os nossos jovens agora podem dizer: "Deixei o cursinho. Estou na universidade".

Houve um tempo em que as celebrações eram justas. Isso foi há muito tempo, quando eu era jovem. Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho. Os pais se davam como prontos para morrer quando uma destas coisas acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da vida; 2) a filha tirava o diploma de normalista. Isso garantiria o seu sustento caso não casasse; 3) o filho entrava para o Banco do Brasil; 4) o filho tirava diploma.
O diploma era mais que garantia de emprego. Era um atestado de nobreza. Quem tirava diploma não precisava trabalhar com as mãos, como os mecânicos, pedreiros e carpinteiros, que tinham mãos rudes e sujas.
Para provar para todo mundo que não trabalhavam com as mãos, os diplomados tratavam de pôr no dedo um anel com pedra colorida. Havia pedras para todas as profissões: médicos, advogados, músicos, engenheiros. Até os bispos tinham suas pedras.
(Ah! Ia me esquecendo: os pais também se davam como prontos para morrer quando o filho entrava para o seminário para ser padre —aos 45 anos seria bispo— ou para o exército para ser oficial —aos 45 anos seria general.)
Essa ilusão continua a morar na cabeça dos pais e é introduzida na cabeça dos filhos desde pequenos. Profissão honrosa é profissão que tem diploma universitário. Profissão rendosa é a que tem diploma universitário. Cria-se, então, a fantasia de que as únicas opções de profissão são aquelas oferecidas pelas universidades.
Quando se pergunta a um jovem "O que é que você vai fazer?", o sentido dessa pergunta é "Quando você for preencher os formulários do vestibular, qual das opções oferecidas você vai escolher?". E as opções não oferecidas? Haverá alternativas de trabalho que não se encontram nos formulários de vestibular?
Como todos os pais querem que seus filhos entrem na universidade e (quase) todos os jovens querem entrar na universidade, configura-se um mercado imenso, mas imenso mesmo, de pessoas desejosas de diplomas e prontas a pagar o preço. Enquanto houver jovens que não passam nos vestibulares das universidades do Estado, haverá mercado para a criação de universidades particulares. É um bom negócio.
Alegria na entrada. Tristeza ao sair. Forma-se, então, a multidão de jovens com diploma na mão, mas que não conseguem arranjar emprego. Por uma razão aritmética: o número de diplomados é muitas vezes maior que o número de empregos.

Já sugeri que os jovens que entram na universidade deveriam aprender, junto com o curso "nobre" que freqüentam, um ofício: marceneiro, mecânico, cozinheiro, jardineiro, técnico de computador, eletricista, encanador, descupinizador, motorista de trator... O rol de ofícios possíveis é imenso. Pena que, nas escolas, as crianças e os jovens não sejam informados sobre essas alternativas, por vezes mais felizes e mais rendosas.
Tive um amigo professor que foi guindado, contra a sua vontade, à posição de reitor de um grande colégio americano no interior de Minas. Ele odiava essa posição porque era obrigado a fazer discursos. E ele tremia de medo de fazer discursos. Um dia ele desapareceu sem explicações. Voltou com a família para o seu país, os Estados Unidos. Tempos depois, encontrei um amigo comum e perguntei: "Como vai o Fulano?". Respondeu-me: "Felicíssimo. É motorista de um caminhão gigantesco que cruza o país!".
Rubem Alves, 60 + 10, é escritor, educador e contador de histórias. Escreveu, entre outros, "O Decreto da Alegria" (Paulus) e "Mais Badulaques" (Parábola Editorial).
Site: www.rubemalves.com.br

Actividad de lectura

Responder as seguintes perguntas sobre o texto "Diploma não é solução":

Qual o propósito do texto?
O que se entende no texto por profissão e o que por ofício?
Identificar no texto todas as formas de como se faz referência ao diploma universitário.
Ao que referem-se as seguintes frases:
a) ...salvem-se enquanto é tempo...
b) ...eles estão enganados...
c) ...Acabaram de chegar ao último patamar...
d) ...Era um atestado de nobreza...
e) ...É um bom negócio...
f) ...Alegria na entrada. Tristeza ao sair... 

Assinalar verdadeiro ou falso segundo a informação do texto "Diploma não é solução"

 

O texto aconselha que o melhor é estudar um ofício e não fazer a universidade

Verdadero Falso

A universidade já não oferece uma boa formação como antigamente

Verdadero Falso

Os jovens que entram na universidade acham que já estão no final do camino.

Verdadero Falso
Actividad desplegable

Associar os pronomes  demonstrativos em negrito com o seu referente

Para fazer a seguinte atividade recomenda-se ler o aprêndice gramatical sobre pronomes demonstrativos.

 

 

Porque aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles estão enganados.  

Porque aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles estão enganados. 

O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo.

Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho.

Os pais se davam como prontos para morrer quando uma destas coisas acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da vida; 2) a filha tirava o diploma de normalista. Isso garantia o seu sustento caso não casasse; 3) o filho entrava para o Banco do Brasil; 4) o filho tirava diploma.  coisas

Pena que, nas escolas, as crianças e os jovens não sejam informados sobre essas alternativas.

O sentido dessa pergunta é “Quando você for preencher os formulários do vestibular, qual das opções oferecidas você vai escolher?”.

A2

Vestibulares deste ano já terão que aplicar nova

Lei de Cotas, diz Mercadante

Rafael Targino
Do UOL, em São Paulo

 

 

15/10/201215h22 > Atualizada 15/10/201216h29

 

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse nesta segunda-feira (15) que os vestibulares das universidades federais que serão aplicados já neste ano terão que se ajustar à nova Lei de Cotas. A norma foi regulamentada hoje, no Diário Oficial da União.

“Todos os vestibulares desse ano terão que fazer ajuste", disse o ministro. De acordo com o ministro, o critério para raça será autodeclaratório. Já o de renda exigirá comprovação. Ele disse que as universidades não poderão usar critérios adicionais, como o utilizado pela UnB (Universidade de Brasília), que faz com que a candidatura do estudante passa por uma banca de avaliação. "Essa não é recomendada para ser uma política nacional. A universidade não tem direito de declarar a raça a que um cidadão pertence."

A nova norma também já vale para o próximo Sisu (Sistema de Seleção Unificada). "No caso do Sisu, nós regulamentaremos conforme o decreto e portaria. Todas as instituições terão que cumprir a lei", disse o ministro.

Os estudantes cotistas poderão contar, afirmou Mercadante, com um sistema de tutoria para ajudar nos estudos. Porém, o modelo ainda está sendo definido pelo MEC (Ministério da Educação).

VEJA UM EXEMPLO HIPOTÉTICO DE DISTRIBUIÇÃO DE VAGAS

cotas


No exemplo apresentado pelo ministro, o curso de uma universidade do Rio de Janeiro tem cem vagas disponíveis. No Estado, 51,8% da população é composta de pretos, pardos e indígenas. Os números dentro dos círculos representam o número de vagas reservadas

Disputa

Mercadante anunciou também que o estudante cotista que não for aprovado em alguma das vagas reservadas poderá continuar na disputa para as vagas gerais. A norma vale pelos próximos quatro anos, quando a nova lei, que exige reserva de 50%, estará totalmente implantada.

“Todas as universidades terão que garantir que os estudantes que optarem pela cota possam disputar depois, se não entrarem pela cota, a disputa geral. Porém, a universidade que desejar, pode permitir que ele dispute primeiro a geral e, depois, a de cotas."

Ainda segundo o ministro, as universidades terão a liberdade de, se quiserem, fazerem uma subcota para indígenas, já que a lei os trata em conjunto com pretos e pardos. “Achamos que é justo que acha um subconjunto para indígenas, especialmente em Estados que haja uma demanda específica”, afirmou Mercadante, citando as regiões Norte e Centro-Oeste.

A seleção seguirá as regras das universidades. Ou seja: elas estão livres, por exemplo, para estabelecerem uma nota de corte mínima mesmo para as vagas reservadas.

 

Critérios

A lei de cotas estabelece que 50% das vagas das instituições federais (universidades e institutos) serão destinadas a alunos de escolas públicas. No caso das universidades, o candidato cotista precisará ter cursado "integralmente o ensino médio em escolas públicas, inclusive em cursos de educação profissional técnica".

 

LEIA MAIS

  • Confira o texto completo do decreto que regulamenta a Lei de Cotas

A partir daí, haverá uma nova divisão: dentre esses 50%, metade será reservada para alunos com renda menor que 1,5 salário mínimo; a outra metade, para os que têm renda acima desse valor.

Após essa divisão, será aplicado o critério racial: haverá vagas reservadas para os estudantes com renda menor que 1,5 salário mínimo para alunos negros, pardos e indígenas, de acordo com a participação dessas populações no último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O mesmo acontece para os que tem renda maior.

Segundo o decreto, os resultados do Enem poderão ser utilizados como critério de seleção para o ingresso nas instituições federais vinculadas ao MEC (Ministério da Educação) que ofertam vagas de educação superior.

As universidades terão que implementar, pelo menos 25% da reserva de vagas a cada ano, devendo a lei estar completamente em vigor até 30 de agosto de 2016.

Veja a opinião dos ministros do STF sobre cotas raciais em universidades públicas

Fonte: http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/10/15/vestibulares-deste-ano-ja-terao-que-aplicar-nova-lei-de-cotas-diz-mercadante.htm

Ler o texto "Vestibulares deste ano já terão que aplicar nova Lei de Cotas, diz Mercadante" para realizar as atividades abaixo.

1) Qual são os critérios a levar em conta para a aplicação da Lei de Cotas?

2) Quais são as diferenças para a aplicação dos critérios?

3) Qual a discussão a respeito da aplicação do critério de raça?

4) Procurar informação sobre o que é o Enem.


Qual é o primerio criterio a levar em conta para a aplicação da Lei de Cotas?

banca de avaliação

raça

subcota para indígenas

ter cursado o ensino médio em escolas públicas


Assinalar quais os argumentos contra a Lei de Cotas são  possíveis inferir pelas declarações dos ministros do STF

A política de cotas é contra à Constituição

A política de cotas não valora as capacidades pessoais

O sistema de cotas atua sobre a realidade de uma injustiça

A política de cotas vai contra à democracia

As cotas vão prejudicar a democracia



Texto: "Vestibulares deste ano já terão que aplicar nova Lei de Cotas, diz Mercadante"

Associar os pronomes pessoais destacados em negrito com seus referentes

Ou seja:  elas  estão livres, por exemplo, para estabelecerem uma nota de corte mínima mesmo para as vagas reservadas.

Ele disse que as universidades não poderão usar critérios adicionais.

Elas  não compensam [atitudes anteriores].

 

Associar os pronomes demonstrativos e as expressões com o seus referentes

 

 

"Essa não é recomendada para ser uma política nacional"

 "Após essa divisão, será aplicado o critério racial"

F1

PRONOMES E ADVÉRBIOS DEMONSTRATIVOS

Os pronomes demonstrativos são aqueles que têm função dêitica (além dos pronomes pessoais), isto é, aqueles que situam os seus referentes no tempo ou no espaço em relação às pessoas do discurso (primeira e segunda pessoa) e não podem ser interpretados semanticamente por si sós.

Também são usados para indicar a posição textual do referente, ou seja, retomar ou apresentar um elemento ou uma frase no discurso. Essa é uma das funções mais importantes dos demonstrativos a respeito da compreensão leitora, pois, retomando conteúdos já mencionados no texto, os demonstrativos permitem a coesão de diversos elementos do discurso.

PRONOMES DEMONSTRATIVOS

ADVÉRBIOS DEMONSTRATIVOS

TEMPO

DISCURSO

Este, esta, isto

Aqui

Presente

Apresentam um elemento

Esse, essa, isso

Aí, ali

Passado recente ou futuro

Retomam um elemento

Aquele, aquela, aquilo

lá, acolá

Passado remoto

Retomam um elemento

 

  • Em relação ao espaço (lugar), usamos este, esta, isto e aqui para representar qualquer elemento que esteja próximo da pessoa que fala; esse, essa, isso, e ou ali para elemento que esteja próximo da pessoa com quem se fala; aquele, aquela, aquilo e lá ou acolá para elemento distante de ambos.
    "
    estão os jovens nos semáforos, de cabeças raspadas e caras pintadas, na maior alegria, celebrando o fato de haverem passado no vestibular."

  • Em relação ao tempo, usamos este, esta, isto e aqui para representar o tempo presente; esse, essa, isso, e ou ali para o passado recente ou para o futuro; aquele, aquela, aquilo, e ou aco para o passado remoto.

" o sinal fica verde e eu continuo".
"
Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho".

  • Em relação ao discurso, usamos esse, essa, isso e aquele, aquela, aquilo para retomar um elemento ou uma frase anterior (função anafórica).
    Houve um tempo em que as celebrações eram justas. Isso foi há muito tempo, quando eu era jovem.
    Usamos
    este, esta, isto para apresentar um elemento ou uma frase que será escrita ou falada (função catafórica).
    "Porque aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles estão enganados."
    Observe-se que os neutros
    isto, isso, e aquilo podem retomar ou apresentar toda uma frase e não apenas um elemento da frase.

Os advérbios e pronomes demonstrativos se fusionam com algumas preposições formando contrações:

PREPOSIÇÕES

PRONOMES DEMONSTRATIVOS

 

ESTE /ESTA / ISTO

ESSE / ESSA / ISSO

DE

deste / desta / disto

deste / desta / disto

EM

neste / nesta / nisto

nesse / nessa / nisso

A

---------

---------

 

PREPOSIÇÕES

ADVÉRBIOS DEMONSTRATIVOS

 

AQUI

DE

daqui

daí

F2

PRONOMES POSSESSIVOS

Os pais se davam como prontos para morrer quando uma destas coisas acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da vida.

Como indica o seu nome, os pronomes possessivos são aqueles que indicam a qual pessoa do discurso pertence o elemento ao que se referem. No exemplo acima, o pronome seu está indicando que o elemento possuído (sustento) pertence à 3a pessoa do discurso, que neste caso refere a “a filha”.

Cabe salientar que nem sempre o pronome possessivo indica posse física, às vezes trata-se de posse num sentido figurado, como é o caso do exemplo analisado: a filha não tem a posse física, real, do sustento, o pronome faz referência àquele sustento que corresponde à filha.

Os pronomes possessivos concordam em gênero e número com o elemento possuído e em pessoa gramatical com o possuidor.

pessoa do discurso

pronome possesivo

Primeira pessoa singular

meu(s), minha(s)

Segunda pessoa singular

seu(s), sua(s) / teu(s), tua(s)

Terceira pessoa singular

seu(s), sua(s)

Primeira pessoa plural

nosso(s), nossa(s)

Segunda pessoa plural

seu(s), sua(s) / vosso(s), vossa(s)

Terceira pessoa plural

seu(s), sua(s)

 

Os pronomes possessivos em português podem vir acompanhados de artigos determinados (o, a, os, as), como no exemplo acima. Nestes casos, o artigo e o pronome possessivo sempre concordam em gênero e número.

As formas correspondentes a terceira pessoa (seu, sua, seus, suas) podem causar ambiguidade em determinadas circunstâncias. Observemos o exemplo seguinte:

O filho perguntou à mãe se poderia usar seu carro (o carro de quem? Da mãe ou do filho?).

Nestes casos, é necessária a reformulação do enunciado, fazendo uso das formas dele, dela, deles, delas, segundo corresponder:

O filho perguntou à mãe se poderia usar o carro dela.

 

 

 

 

Outros exemplos de uso dos pronomes possessivos no texto “Diploma não é solução”.

Passadas as provas e os seus sofrimentos, os jovens deixaram de ser crianças. Agora são adultos, com todos os seus direitos e deveres. Podem assentar-se na roda dos homens. Assim como os nossos jovens agora podem dizer: "Deixei o cursinho. Estou na universidade".

Como todos os pais querem que seus filhos entrem na universidade e (quase) todos os jovens querem entrar na universidade, configura-se um mercado imenso, mas imenso mesmo, de pessoas desejosas de diplomas e prontas a pagar o preço.

Voltou com a família para o seu país, os Estados Unidos.